Documento aguardado pela Igreja é o resultado do sínodo dos bispos, realizado no ano de 2019.
Nesta quarta-feira, 12 de fevereiro, o Papa Francisco divulgou a publicação da exortação apostólica pós-sinodal, em Roma. Esse documento é o resultado do sínodo dos bispos, realizado no ano de 2019. Na oportunidade, líderes católicos se reuniram para discutir os novos caminhos para a igreja, a situação na região amazônica, as questões ligadas ao meio ambiente e aos povos indígenas.
O sentido da Exortação
Papa Francisco publicou a Exortação “Querida Amazônia”, que resultou no documento Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral, publicado no dia 12 de fevereiro. O documento é cheio de referências e dados das conferências episcopais dos países amazônicos e a poesias de autores ligados à Amazônia.
Nos primeiros pontos, Papa Francisco explica o sentido da Exortação “A Amazônia querida apresenta-se aos olhos do mundo com todo o seu esplendor, o seu drama e o seu mistério. ”
Papa Francisco faz um convite à leitura do documento na íntegra para que a sociedade possa ter uma reflexão profunda sobre o tema e para que os fiéis-leigos na Amazônia se empenhem para colocar as ações em prática e, ao mesmo tempo, possam inspirar muita gente.
Em “Sonhos para Amazônia”, o Papa reforça o envolvimento do mundo inteiro com o objetivo de despertar por uma terra que também é “nossa”. Dentre os sonhos, destaca quatro pilares: “uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres”, “que preserve a riqueza natural”, “que guarde zelosamente a sedutora beleza natural” e “com comunidades cristãs capazes de devotar e encarnar de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos. ”
Um sonho social
O sonho social é o primeiro pilar que o Papa apresenta como uma integração e promoção de todos os seus habitantes “uma verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres. ”
Ele recorda que seu antecessor, Bento XVI, denunciava “a devastação ambiental da Amazônia e as ameaças à dignidade humana das suas populações. ” Historicamente, o sofrimento e o desprezo que as operações econômicas nacionais e internacionais trazem aos povos indígenas e aos povos mais pobres com a devastação da Amazônia, é motivo de indignação e alerta contra a vida deles e contra a fragilidade do meio ambiente.
Ainda nesse pilar, Papa Francisco reforça a importância do diálogo social entre diferentes povos nativos e a sociedade como um todo como forma de comunhão e luta conjunta. O diálogo não se deve limitar a privilegiar a opção preferencial pela defesa dos pobres, marginalizados e excluídos, mas há de também respeitá-los como protagonistas. Trata-se de reconhecer o outro e apreciá-lo «como outro», com a sua sensibilidade, as suas opções mais íntimas, o seu modo de viver e trabalhar, lembrou ele.
Um sonho cultural
O segundo capítulo faz referência ao sonho cultural. Papa Francisco explica que “promover a Amazônia; isto, porém, não implica colonizá-la culturalmente, mas fazer de modo que ela própria tire fora o melhor de si mesma. ” O Papa recorda que é preciso cuidar das raízes, aproveita para fazer um convite aos jovens da Amazônia e em especial aos povos indígenas, para que o empobrecimento humano seja evitado.
A partir da economia globalizada, existem culturas ameaçadas, um povo todo em risco. As migrações forçadas resultam em uma desestruturação das famílias “a família é, e sempre foi, a instituição social que mais contribuiu para manter vivas as nossas culturas”.
A todo o momento, Papa Francisco reforça a importância de assumir as raízes, para que o protagonismo dos povos locais não se perca diante da riqueza humana, social e cultural.
Um sonho ecológico
O terceiro capítulo traz a abordagem da conversão ecológica. Papa Francisco fala sobre a proximidade da relação do ser humano com a natureza e relembra algumas palavras de Bento XVI “ao lado da ecologia da natureza, existe uma ecologia que podemos designar ‘humana’, a qual, por sua vez, requer uma ‘ecologia social’. ”
Para ele é tão natural que os cuidados das pessoas junto ao ecossistema andem juntos, que se torna significativo entender que a floresta não é um lugar a se explorar e sim um lugar para se relacionar com os outros seres existentes nela.
Para Papa Francisco é muito importante ouvir o grito da Amazônia, já que o equilíbrio da Terra necessita da saúde da Amazônia. É urgente o cuidado com a Amazônia, sem esquecer que qualquer intervenção no território seja de forma sustentável. É necessário que os povos que lá estão, recebam informações completas sobre efeitos e riscos dos projetos, para que assim, possam estar aptos a dar o consentimento, negar ou propor alternativas.
A ecologia integral inclui um aspecto educativo, que inclui novos hábitos nas pessoas até mesmo para muitos habitantes da Amazônia. Infelizmente, alguns costumes enraizados das cidades viraram costumes próprios deles, como o consumismo e a cultura de descarte. Por isso, a preocupação em estimular e conscientizar a ecologia integral para um estilo de vida mais sustentável, respeitoso e fraterno.
Um sonho eclesial
Já o quarto capítulo é direcionado mais para os pastores e fiéis católicos. O Papa Francisco convida a Igreja a caminhar com os povos da Amazônia. O desejo de desenvolver uma Igreja com o rosto amazônico não é simplesmente levar uma mensagem social aos povos e sim proporcionar o anúncio ao Evangelho, o que é de direito deles.
Para que seja possível uma evangelização renovada na Amazônia, é necessário que a Igreja reconheça os valores do estilo de vida das comunidades nativas, que volte a dar voz aos mais velhos e recupere as histórias dos povos. “Somos chamados a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles”, citou Papa Francisco.
A Mãe da Amazônia
Por fim, Papa Francisco conclui o documento convidando todos a caminharem juntos com ações concretas para transformar a Amazônia em uma nova realidade e libertá-la de todo mal que a aflige.
Papa Francisco encerra o documento com uma oração destinada à Mãe da Amazônia, com o olhar direcionado para Maria, a Mãe de Cristo. – Mostrai-Vos como mãe de todas as criaturas,
na beleza das flores, dos rios, do grande rio que a atravessa e de tudo o que vibra nas suas florestas. Protegei, com o vosso carinho, aquela explosão de beleza – é um pequeno trecho da oração.
O documento carinhosamente chamado de “Querida Amazônia” é um sonho grande, capaz de envolver a todos. É um chamado a conversão integral divididos em quatro pilares: social, cultural, ecológico e eclesial. É uma reflexão para o aperfeiçoamento de um novo caminho para a evangelização, um estímulo ao diálogo com povos diferentes e o cuidado com a casa comum. Fica o convite para a leitura do documento na íntegra: Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral.
Por Simone Rezende
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