De 20 de novembro de 2022 a 26 de novembro de 2023 a Igreja do Brasil celebra sua terceira edição de um Ano Vocacional. As outras edições foram em 1983 e 2003. Neste artigo, trazemos um “aperitivo” do Texto-base, lançado oficialmente no dia 1º de agosto de 2022.
Com o tema: “Vocação: Graça e Missão”, e o lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (Lc 24,32-33), celebramos o 3º Ano Vocacional do Brasil em 2023, 40 anos após o primeiro e 20 anos após o segundo. O objetivo é “promover a cultura vocacional nas comunidades eclesiais, nas famílias e na sociedade, para que sejam ambientes favoráveis ao despertar de todas as vocações, como graça e missão, a serviço do Reino de Deus”.
Para atingir o objetivo geral foram escolhidos sete objetivos específicos, que, juntos, assegurarão certamente um novo impulso, fomento, avanço da cultura vocacional, em vista do despertar, primeira etapa do itinerário ou processo vocacional. Compreender a frase do papa Francisco na Exortação Pós-sinodal Christus Vivit (Cristo Vive) – “toda a pastoral é vocacional, toda a formação é vocacional e toda a espiritualidade é vocacional” (ChV 254) – é o primeiro objetivo específico. O chamado de Deus e a resposta humana ao chamado, de fato, compõem um processo permanente, assim como a formação, ou seja, inicia-se quando nascemos e se conclui quando somos chamados à eternidade. Assim, toda a atividade pastoral deve ajudar e convergir na resposta de amor ao chamado amoroso do Senhor da messe. Um chamado a sermos “operários e operárias” na construção de um mundo melhor. E, aqui, entra o segundo objetivo específico, o de aprofundar a Teologia da Graça e da Missão dentro da pedagogia vocacional, que gere discernimento e respostas concretas ao chamado divino, com liberdade e responsabilidade.
“Queremos mais padres e mais religiosas”, escutamos por aí. “Que o Ano Vocacional venha ao encontro das vocações ao sacerdócio e à vida consagrada”, desejam muitos na Igreja. Sim, certamente todos queremos mais operários e operárias na messe do Senhor, mas nessa dinâmica necessitamos fortalecer a consciência do discipulado missionário de todos os batizados e batizadas, levando-os a reconhecer e assumir também a identidade vocacional da vida laical como uma forma própria e específica de viver a santidade batismal a serviço do Reino de Deus. Este objetivo específico, que resgata o Documento de Aparecida (DAp 184), recorda-nos que somos todos chamados, sem exceção. Faz recordar, ainda, o tema refletido e aprofundado no 2º Ano Vocacional do Brasil, há 20 anos: “Batismo, fonte de todas as Vocações”.
O acompanhamento vocacional de nossos jovens, num modo personalizado e com maior proximidade e compreensão, não poderia ficar de fora dos objetivos específicos do 3º Ano Vocacional do Brasil. O contexto pós Sínodo dos Bispos sobre a Juventude veio chamar a atenção de toda a Igreja para este acompanhamento específico, que deve favorecer e fortalecer o protagonismo juvenil, impulsionando os jovens ao serviço generoso e à missão (cf. ChV 30). Tanto o Documento Conclusivo do Sínodo, quanto a Exortação Pós-Sinodal Christus Vivit, já mencionada, apresentam indicações valiosas para o serviço de animação da juventude, tornando-se subsídios vocacionais indispensáveis.
Um Ano Vocacional deve, também, preocupar-se em despertar vocações à Vida Consagrada e ao Ministério Ordenado, acompanhando-as num processo de formação integral, para que sejam sempre fiéis ao seguimento de Jesus e à missão de servir com alegria, em comunhão, tornando visível o Reino de Deus, de vida plena para todos. É o quinto objetivo específico. Importante percebermos que não basta despertar vocações, mas se deve prever o devido acompanhamento e cultivo, pois – como já afirmamos – o chamado é permanente.
O Texto-base, ao descrever o penúltimo objetivo específico do Ano Vocacional, cita Mateus e Lucas no “mandamento” de Jesus de se rezar pelas vocações: “A messe é grande, mas os operários são poucos; por isso, rogai ao Senhor da messe que mande mais operários para sua messe” (Mt 9,38; Lc 10,2). Intensificar a prática da oração pelas vocações em todos os âmbitos: pessoal, familiar e comunitário, é o objetivo não apenas de um ano dedicado às vocações, mas deve ser uma prática cotidiana nos âmbitos ali descritos, ou seja, rezar pessoalmente, na família e na comunidade. A oração nos aproxima de Deus e nos desperta à corresponsabilidade.
No sétimo objetivo está a postura do trabalho em comunhão, em rede: fomentar, nos âmbitos regional, diocesano e paroquial, um serviço de animação vocacional articulado, com a criação e consolidação de Equipes Vocacionais Paroquiais e Diocesanas, dentro de uma pastoral orgânica, na sinodalidade, envolvendo todas as vocações. Nesta direção, a Coordenação Nacional do Serviço de Animação Vocacional e a Comissão de Subsídios do Ano Vocacional uniram-se no projeto de elaborar as Diretrizes para o Serviço de Animação Vocacional no Brasil, onde deve constar pistas de como articular o trabalho em rede. O livro está previsto para ser lançado durante o Ano Vocacional, às vésperas do Mês Vocacional de 2023.
OS CORAÇÕES ARDEM E OS PÉS SE COLOCAM EM MISSÃO
O episódio dos Discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35) é um belo e inspirador ícone vocacional. Dois discípulos caminhavam pesarosos e desalentados diante dos fatos ocorridos naqueles dias (paixão e morte de Jesus) e seus olhos marejados pela dor e pelo fatalismo ficam impedidos de reconhecerem o Senhor que se põe com eles na mesma estrada. A cena do aparente fracasso da cruz lhes vem à mente e ao coração, e resolvem voltar à Emaús. A Palavra do Mestre e sua releitura dos mesmos fatos à luz das Escrituras, no entanto, fazem arder seus corações, reacendendo a chama da fé e “re-esperançando” seus passos. Ao redor da mesa e na partilha do pão eles reconhecem o Senhor e desvendam plenamente sua presença.
O Hino do Ano Vocacional, lançado oficialmente no último dia 31 de agosto de 2022, na conclusão do Mês Vocacional, reflete bem a “Teologia Vocacional de Emaús”. Os autores foram felizes na reflexão, numa poesia e musicalidade que farão as nossas comunidades eclesiais cantarem e, ao mesmo tempo, sentirem-se chamadas para subir a montanha com Jesus, escutando o seu chamado (dimensão orante), e logo descer e partir, com Jesus e como Jesus (dimensão missionária).
O Texto-base do Ano Vocacional faz memória do conceito de vocação no Concílio Vaticano II e no Documento de Aparecida, além de apresentar o testemunho do papa Francisco, grande animador vocacional de todos nós. Faz uma Leitura Orante Vocacional de Marcos 3,13-19, onde podemos nos enxergar como sendo, nós mesmos, as chamadas e os chamados por Jesus a estar com ele, preparando-nos para o envio. Na terceira e última parte aprofunda o significado de Cultura Vocacional e tenta responder à pergunta que também poderia ser a de muitos de nós, diante de tantas “encruzilhadas”: para onde vamos caminhar? As indicações estão dadas, as pistas estão apresentadas e organizadas, sintetizando inclusive aquelas provenientes do 4º Congresso Vocacional do Brasil, o último evento vocacional realizado em âmbito nacional. Mas, o fundamental e imprescindível é a modalidade nesse caminhar por novos rumos. Juntos, em comunhão!
Por Pe. Juarez Albino Destro, rcj
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