Quando o assunto é adolescência…

O que é adolescência? Quando começa e quando termina? Quais suas características? Afinal, o que é ser adolescente? Muitas perguntas são feitas sobre essa fase singular da vida. E a verdade é que não há respostas simples para nenhuma delas, mas podemos refletir e saber como lidar…

 

 

Quem são os adolescentes? Rebeldes sem causa ou em busca de um ideal? Afastados da família ou buscando um lugar no mundo? As possíveis respostas para estas e outras questões, relacionadas a este período tão rico e, ao mesmo tempo, tão turbulento do desenvolvimento humano chamado ‘adolescência’, tem inquietado pais, educadores e a sociedade em geral. Reconhecemos a adolescência como uma das importantes etapas do desenvolvimento humano, ao mesmo tempo em que, muitas vezes, nós nos sentimos incapazes de lidar com os adolescentes. A expectativa que quase sempre nos salta aos olhos é a de que esta fase só se torna boa quando acaba, evidenciando o nosso desconforto e dificuldade para nos relacionarmos com os adolescentes. Em que pesem os nossos sentimentos de inadequação, será que o nosso olhar sobre a adolescência, marcada como etapa de crise, de transição, está correto? Será que a adolescência deveria ser vista, como muitas vezes o é, como a idade média do desenvolvimento humano, caracterizada por indefinições e “escuridão”?

Inicialmente, seria importante considerar a adolescência como uma etapa do desenvolvimento humano, com suas peculiaridades, da mesma forma que as demais fases como a infância, a juventude, a idade adulta e a velhice. A adolescência possui características que a definem, não necessitando ser considerada apenas como um período de transição entre etapas. Enquanto etapa do desenvolvimento, caracteriza-se por uma série de transformações, envolvendo fatores biológicos e culturais. É exatamente essa característica multideterminada da adolescência que lhe confere o caráter de singularidade na história dos indivíduos. É determinada pelos fatores biológicos como também pela família, pela escola, pelo grupo de amigos, pelas práticas culturais, enfim, pela história de cada indivíduo no seu meio social. Nesse sentido, já que somos uma unidade integrada, as alterações fisiológicas pelas quais passam os adolescentes têm profundo impacto sobre suas emoções, pensamentos e relacionamentos.

As variações bruscas nas dimensões corporais, a maturação sexual, as alterações hormonais, entre outras, precisam ser consideradas no relacionamento com os adolescentes. Tais transformações impactam sua imagem corporal, ou seja, a percepção que um adolescente tem de seu eu físico (sua imagem corporal). Essa pode ser influenciada por experiências anteriores que o levaram a se ver enquanto uma pessoa atrativa ou não, forte ou fraca, masculina ou feminina, independente dos fatores reais de sua aparência física e capacidades. Além desses fatores, podem ser influenciados também pela moda e padrão de beleza que a sociedade impõe como corpo e tipos ideais.

Associada a essas mudanças, há a aquisição de novas capacidades cognitivas e também de novas responsabilidades quanto a papéis sociais. Sobre os adolescentes pairam diferentes exigências e expectativas da família, amigos e comunidade, sugerindo o desenvolvimento gradual de sua autonomia na perspectiva de que, na idade adulta, já tenham desenvolvido a capacidade de tomar decisões, de exercer julgamentos e de regular apropriadamente o próprio comportamento. Nesse contexto, a identidade construída a partir de um esquema corporal infantil tem agora de ser reformulada, reconstruída. Como essa reconstrução é um processo interpessoal, no nível da sociabilidade entre as pessoas, as mudanças na identidade do adolescente acarretam modificações nas suas relações, sobretudo com seus pais, que também têm sua identidade questionada.

A perda de segurança em relação aos pais, que deixam o papel de “heróis”, leva o adolescente a buscar, no grupo de amigos, o abrigo e a proteção que antes vinham da família. Nesse processo, o adolescente encontra-se, muitas vezes, perdido num mundo que ainda não é seu: a maturação psicológica não acompanha o desenvolvimento sexual, e ele irá utilizar o grupo para se proteger de suas angústias e temores. Essa referência grupal atua como um elemento facilitador para a aceitação de sua nova condição de ‘ex-criança’ e ‘quase-adulto’ junto aos seus iguais, que se encontram na mesma situação. Eles tanto se ajudam em situações de dificuldade, apoiando-se mutuamente, formando grupinhos, como também são implacáveis na exclusão daqueles que, por algum motivo, não se encaixam nos padrões estabelecidos por eles.

 

Influências digitais

O mundo digital tem crescido, as tecnologias vêm aumentando e alguns desafios são enfrentados. Com o avanço da tecnologia estão ocorrendo mudanças na vida cotidiana das redes, tendo elas consequências negativas e positivas, sociais e psicológicas. Para os adolescentes, a internet tem sido um meio de ligação completa com o mundo que já faz parte do dia a dia.

 

A adolescência é o momento que os indivíduos começam a ter mais autonomia em relação a seus familiares, e assim, começam a ganhar identidade e liberdade para tomada de decisões e para ocupar papéis na sociedade. Contudo, nesta fase, ainda estão em crescimento como indivíduos, não estão totalmente formados. Estão submetidos às interferências da sociedade ou das redes sociais. Qualquer rede social que o adolescente utilize de forma inadequada ou excessiva pode influenciar sua subjetividade. É interessante compreender os sentidos que os adolescentes estão seguindo com o novo formato de comunicação, qual sentido crítico ele está desenvolvendo.

Por outro lado, seria ingenuidade imaginar um jovem sem celular ou sem conexão à internet. É naquele ambiente que parte das suas vidas acontece. É no universo online que muitos descobrem não estar sozinhos em uma fase difícil da vida, de descobrimento de traços da personalidade, como a sexualidade. No campo vasto da internet, todas as tribos se encontram. Ela não é, por si só, uma inimiga. Mas a internet requer moderação. Este é o ponto: a medida certa. Não é razoável expô-los completamente à tecnologia e essa supervisão cabe aos pais ou responsáveis e na escola ganha nova pauta no currículo para orientação nesse ‘novo meio’.

Subjacente a essa situação tensional, permanece a procura de um sentido a ser dado ao seu futuro, à sua vida, levando-o a questionamentos e, consequentemente, a realizar escolhas. Nesse sentido, o encorajamento da autonomia do adolescente, quando ocorre em um contexto de apoio e de proximidade afetiva entre os pais, os educadores e os jovens, permitindo o desacordo e a expressão de pontos de vista alternativos, propicia um ótimo ambiente para o desenvolvimento da autoconfiança, da auto-estima, de responsabilidades, enfim, da identidade do adolescente, pois estes “amadurecem” quando são reconhecidos, respeitados e apoiados.

É claro que, nem sempre, o adolescente faz a melhor opção com relação ao seu amanhã. É indispensável que os pais e educadores participem das discussões sobre seu futuro. Não podem, nem devem, omitir-se, mas precisam saber e assumir que o futuro é dos adolescentes e não deles. É decidindo que se aprende a decidir.

Nessa perspectiva, há o risco de, às vezes, confundirem respeito à autoridade com obediência cega ou o fato de serem um “porto seguro”, com manterem uma dependência constante do adolescente para com eles. Assim, é preciso esclarecer que representar um “porto seguro” significa constituir uma base psicológica equilibrada, a partir da qual os adolescentes possam explorar as opções que a vida lhes proporciona e com apoio e afeto, assumirem a responsabilidade sobre a construção da própria identidade. Dessa forma, os adolescentes amadurecem quando são reconhecidos, respeitados e apoiados em seu crescente senso de autoconfiança e de individualidade.

Pensando na perspectiva do adolescente, é importante também não confundir a necessidade de respeito para com eles com a obrigação de concordar com todas as suas decisões. É possível verbalizar as discordâncias ou desaprovações em relação a eles e, ainda assim, não agir de forma humilhante para com os adolescentes. Quando há discordância de uma decisão que eles tomaram, é importante explicitar as divergências, assim como as possíveis consequências temidas, ao mesmo tempo em que se deve mostrar-lhes as implicações de suas decisões. Assim, torna-se imprescindível o apoio e afeto através da presença dos pais e educadores, da colocação de referências, regras, limites e tolerância para que os adolescentes possam também desenvolver responsabilidades.

O educador Paulo Freire, no livro da Pedagogia da Autonomia (1999, pg. 119) coloca que “a decisão é um processo responsável. Uma das tarefas pedagógicas dos pais é deixar óbvio aos filhos que sua participação no processo de tomada de decisão deles não é uma intromissão, mas um dever, até, desde que não pretendam assumir a missão de decidir por eles. A participação dos pais se deve dar, sobretudo na análise, com os filhos, das consequências possíveis da decisão a ser tomada”.

Nessa perspectiva em que autonomia e tomada de decisão se entrelaçam, as escolhas feitas pelos adolescentes influenciarão o seu comportamento sexual, religioso e afetivo, consolidando o seu processo de formação de identidade.

Assim, é preciso perceber que a adolescência não é necessariamente um período perturbador da vida, especialmente quando ela se desenvolve em um ambiente de confiança e de respeito, onde se percebe que a outra pessoa está bem intencionada e apresenta coerência entre sua fala e ação.

Por fim, a adolescência é uma época de descobertas, uma época única na vida das pessoas. Uma época em que as ligações afetivas, o apoio emocional e o pertencimento ao grupo familiar, bem como ao grupo de iguais são forças propulsoras ao desenvolvimento e não obstáculos a serem vencidos.

 

Por Carlos Eduardo Cardozo (Cadu)
Cadu é especialista em juventude, Mestre e Doutor em Educação.

 

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