Junho de 2022 chegou ao fim.
Era para ser mais um mês dedicado à causa ambiental, fazendo circular manchetes desastrosas e iniciativas potentes em curso e os desafios a superar.
Mas uma música, um hino, nos invadiu e povoou nossas mentes.
“Wahanararai, wahanararai… Marinawa Kinadih, marinawa kinadi…”¹
Essa toada ressurgiu, depois de estampidos de tiros que não escutamos e que dizimou vidas que eram chamas de luz na Amazônia e pelo mundo.
A noite foi longa, mesmo à distância, sem saber o que fazer, impactada pela violenta notícia, meu corpo e minha mente não encontrou aconchego na cama quente e abrigada e eu me levantei para acender uma vela e rezar.
Acho que aprendi com as Filhas de Jesus essa expressão de fé e reverência, sentido de presença divina.
Velas são acesas para iluminar algum assunto, um desejo grande, pessoal, do outro e também coletivo.
Acender a vela é iluminar um grande desejo, mas sobretudo nos leva na presença de Deus.
A vela acesa é uma conexão com a grande luz.
Uma vela nunca se apaga … Uma vida nunca se apaga…
Uma vela nunca se apaga, é luz que vai se consumindo para iluminar, para dar de si para o outro.
Na pequenez da chama, cada um de nós, feito luz, acende outras chamas.
Corrente de luzes e pequenas chamas acesas, inspiradas na grande luz, iluminam o mundo inteiro.
Pessoas são luzes que iluminam as trevas, os tempos sombrios que vivemos.
Acender-se feito uma vela é um convite a se desgastar, se doar para que outras luzes sejam acesas e iluminem as trevas de muitas pessoas que estão apagadas, fracas e desesperançadas.
Além de acender outras luzes, a chama acesa é beleza, poesia, dança da chama, a alegria e à chama da vida sendo consumida, é música silenciosa.
Acender velas tem um sentido muito forte, ligado à questão da vida humana e a vida espiritual.
A vela nos remete a essa transcendência, é luz que crepita, é dar a luz e deixar o outro fluir
A crepitação das chamas traz sentimento de gratidão, reverência.
Alegria e gratidão…
Uma espécie de solidão de muitos, guiada pela luz…
Simbolismo bonito, carregado de sintonia com o Criador, harmonia com o interior.
Presença do Espirito de Deus que se faz presente na chama acesa, que é vida, que é força.
Dormi agradecendo a vida de Irmã Doroty, Chico Mendes, Bruno Pereira, Dom Phillips e de tantas outras grandes e pequenas chamas apagadas de forma trágica e covarde.
Mas, uma vida nunca se apaga.
As chamas acesas e os caminhos trilhados por tantos seres de luz que fizeram da defesa da vida no Planeta sua razão de viver, iluminem nossos pensamentos e ações.
O crepitar das chamas, a discreta fumaça e a música que não parei de escutar me adormeceu.
Que tenhamos coragem para acordar e seguir adiante.
“Wahanararai, wahanararai…Marinawa Kinadih, marinawa kinadi…”
—————————————————————————————
¹https://www.acritica.com/amazonia/univaja-quer-traduzir-canc-o-cantada-por-indigenista-e-transforma-la-em-hino-dos-povos-indigenas-1.273246
Por Maria José Brant (Deka)
Assistente Social, Mestra em Gestão Social, Missionária Madre Cândida
LEIA MAIS EM MATÉRIAS ESPECIAIS
Leia também:
O NOSSO MODO PRÓPRIO DE EDUCAR E A EDUCAÇÃO CATÓLICA